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O ausente em nossas vidas
O ausente em nossas vidas

 

Saudade. Esperança. Rancor. Medo. O que esses sentimentos têm em comum?

Todos dizem respeito não a coisas que estão presentes, mas ao ausente. Sinto saudade de alguém que está fora do meu campo de visão, mas dentro do meu peito. Tenho esperança de que algo ocorra. Tenho rancor de algo que já foi. Temo o que ainda não ocorreu.

Não nos relacionamos apenas com o presente; não é apenas o que está diante dos nossos olhos que tem o poder de nos afectar. Somos seres que vivem conscientemente: temos um passado, criamos expectativas em relação ao futuro e enfeitamos nosso presente com sentimentos e sensações que não se dirigem ao imediatamente palpável. Procuramos o livro que não está aqui, esperamos ansiosos a sessão de cinema que ainda não começou, pensamos na consulta que ainda não aconteceu, tentamos escrever um texto que ainda não existe, lembramos do que comemos no dia anterior, desejamos estar em outro espaço e outro tempo. São tempos vazios, espaços vazios: não estão connosco

 agora.

A importância do vazio e nossa relação com o ausente são assuntos fundamentais na filosofia de Husserl (1859-1939), o pai da fenomenologia. Fenomenologia é a doutrina filosófica que estuda o modo como as coisas aparecem para nós e como nos relacionamos com essas coisas. O contacto da nossa consciência com o mundo – do qual ela não pode existir separadamente – é um assunto que aparece em Descartes, em Kant e tantos outros filósofos. Mas a fenomenologia traz nova luz a essas questões. Por exemplo, a diferenciação entre o presente e o ausente. E a importância do ausente, que, como você pode ver, é bem presente em nossas vidas.

Para quem se interessar sobre o tema: Investigações Lógicas, Husserl. São Paulo: Colecção Os Pensadores, várias edições. E Introdução à Fenomenologia, Sokolowski. São Paulo: Edições Loyola, 2004.

Embora a finalidade primeira deste estudo se volte para uma parte da obra de M. Buber. mais precisamente sua Antropologia Filosófica, não se deve passar ao longe desta questão da articulação dos dois discursos; pelo menos que seja permitido indicar algumas pistas a serem reexaminadas posteriormente de modo mais minucioso. Mesmo que muitos autores contemporâneos tenham consagrado longos estudos a esta questão, creio que ela ainda apresenta aspectos a serem estudados. Deve-se, antes de tudo. deixar clara a intenção destas breves observações: determinar o "lugar" do discurso filosófico em relação ao discurso científico ou em relação à crescente presença do objetivismo deste discurso e sua pretensão em monopolizar todo discurso verdadeiro. Faz-se necessário precisar os limites do discurso científico e o papel do discurso filosófico de modo a arbitrar corretamente o conflito entre filosofia do homem e ciências humanas. Não se trata de defender uma filosofia da subjetividade ou da consciência como fonte de toda realidade ou como transparência de si a si-mesma, da consciência como posse e autodeterminação imediata de si mesma, como representação ou como constituição do real. Esta pretensão já foi denunciada pelos mestres da suspeita: Marx, com a práxis histórica; Nietzsche, com a vontade de poder, e Freud, com o inconsciente.

Não deixa de ser intrigante importar-se com a questão quem é o homem? Afinal, o homem, atualmente, ainda encontra sentido em interrogar-se sobre si mesmo, sobre o sentido de sua existência? Engolfado no mundo da eficácia produtiva, dos interesses imediatos, do consumo desenfreado, da luta pela sobrevivência, diante da fome, da opressão, o homem não se sente mais capaz de mistério. Aturdido pelo gigantesco volume de conhecimentos acumulados não vê senão uma conspiração em eliminar a sua vontade de silêncio para poder encontrar-se consigo mesmo. O pensamento calculante do homem, contemporâneo não permite brechas que lhe propiciem uma visão, embora ofuscada e fugaz, de suas limitações trágicas. A solicitação excessiva do meio ambiente leva à quase-impossibilidade de um contato consigo mesmo através da reflexão. O homem já encontra prontas todas as fórmulas e receitas. O inexorável fluxo das teorias o faz capitular negando-lhe qualquer criatividade e sufocando sua imaginação. As questões essenciais são aquelas meramente utilitárias. Além disso, no campo das ciências humanas, o sentido do humano vem sofrendo constante e sistemática pulverização, a ponto de se eliminar o "humano" nesta infindável setorização a que vem sendo submetido pela análise científica. O humano não é mera soma de setores cujos contornos e regras particulares são definidas por diferentes ciências. E mais, em nome de uma pretensa supremacia de certa racionalidade, eliminam-se dimensões não menos reais da existência humana.

A pista para um possível encaminhamento do problema do significado dos discursos sobre o homem não está na eliminação de um dos discursos em confronto. É estéril qualquer tentativa de um discurso em afirmar sua própria importância limitando-se a negar a existência e a validade do outro. À filosofia cabe denunciar serenamente a pretensão totalitária da explicação objetivista.. Esta , dogmática em sua posição, rejeita qualquer afirmação que seja suscetível de verificação. Para esta tendência cientificista qualquer afirmação que não possa ser declarada verdadeira ou falsa é classificada como metafísica. À filosofia cabe denunciar a redução do humano a simples objeto de investigação. Ao contrário, "o homem se define, diz Merleau-Ponty, em oposição à pedra, que é o que é, como o lugar de uma inquietação, como o esforço constante por se recuperar e consequentemente pela recusa em se limitar a qualquer uma de suas determinações".

Convêm, então, esclarecer o sentido da reflexão filosófica no âmbito de uma antropologia contemporânea. Isso se tornou difícil, uma vez que o acervo dos conhecimentos e dados fornecidos pelas ciências humanas reduziu o campo e a jurisdição da filosofia. Por outro lado, o desenvolvimento das ciências humanas apresenta uma série de questões que exigem uma nova reflexão filosófica, questões que, muitas vezes, não podem ser respondidas por estas ciências e que estas necessitam para se fundarem de modo válido.

"Creio que o ponto de junção entre ciências humanas e filosofia é a preocupação de reencontrar em nós mesmos aquela parte, aquele aspecto que não pode ser objeto de ciência. Não podemos circunscrever as ciências humanas senão através de uma tomada de consciência desse fundo de existência, fundamento esse que alguns denominaram 'o vivido', seja na acepção bergsoniana, seja no sentido da fenomenologia ou do existencialismo. Trata-se de reencontrar aquilo que em nós é sujeito, aquilo que faz de nós um sujeito, aquele que diz 'eu', aquele que está em relação não só com 'ele' ou com um 'isto' mas principalmente com um 'tu'". (Ricoeur,P.-Interrogation philosophique et engagement. Em Pourquoi la Philosophie. Pag. 16-17).

De sua parte Jolif apresenta de modo sucinto a interdependência dos dois discursos quando afirma: "na ordem da fundação, as ciências humanas têm necessidade da filosofia e essa, por sua vez, na ordem da concretização,. tem necessidade das ciências".( Comprendre l'homme Pag.125.)

Heidegger, no seu clássico Kant e o problema da metafísica, nos resume de modo desconcertante o âmago da questão: "Nenhuma época acumulou conhecimentos tão numerosos e tão diversos sobre o homem como a. nossa. Nenhuma época conseguiu apresentar seu saber acerca do homem sob uma forma que nos afete tanto. Nenhuma época conseguiu tornar esse saber tão facilmente acessível. Mas também nenhuma outra época soube menos o que é o homem".(pag. 266 da tradução francesa).

Heidegger se referia ao caráter fragmentário dos conhecimentos sobre o homem e à impossibilidade das ciências em alcançar a totalidade da existência humana: " as diferentes condutas - social, psíquica, lingüística etc. - às quais se aplica o conhecimento das disciplinas científicas encontram sua integração na existência do homem que as vive, e essa unidade existencial é acessível tão-somente à reflexão filosófica". (Canclini,N.G.-O sentido dialético do humano. Em revistqa Paz e Terra. No. 9, pag. 163).

Para este autor, "a filosofia tem uma função insubstituível com relação ao problema do sentido. As ciências apenas descrevem a realidade humana; a filosofia é a reflexão sobre o que o homem pode fazer com essa realidade. As ciências revelam os condicionamentos - sociais, psíquicos - que operam sobre o homem, o que as estruturas nas quais está imerso fazem com ele; a filosofia mostra como o homem assume estes condicionamentos e essas estruturas, como empresta um sentido à sua existência por meio deles. Por isso limitar-se a uma análise exclusivamente científica - que só analise a realidade exi

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